sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Atahualpa 6 - Carinho

(Para Adenilson Teles, no tempo em que ele tinha doze anos e trabalhava numa mercearia)


Um pouco antes de Atahualpa vir para a minha vida, eu perdi um grande, grandessíssimo, enorme amigo que era o jornalista Adenilson Teles. Teles foi matado por uma mulher que não podia perder um minuto na vida, e que fê-lo perder a vida num segundo, ultrapassando com velocidade numa lombada.
Teles morreu no finalzinho de outubro; Atahualpa veio para a minha vida no dia 6 de dezembro. Se hoje, quase um ano depois, eu ainda fico arrasada de dor quando me lembro do Teles, imaginem como foi lá no ano passado.
Teles fora o grande sonhador e batalhador para que tivéssemos uma rádio comunitária. Muito ele trabalhou, lutou e sofreu para que tal acontecesse, e a rádio estava legalizadinha, pronta para voltar ao ar sem mais entraves, quando ele partiu.
Fico pensando, agora, se Teles não ajudou às cegonhas dos cachorros para que Atahualpa viesse cair na minha vida quase que como por milagre, como uma forma de mitigar um pouco a minha dor.
Outra coisa a se contar nesta introdução é que na cidade de Blumenau, onde vivemos, quarenta graus de calor, no verão, é fichinha, e então, principalmente nas grandes férias coletivas entre Natal e Ano Novo, quase todo o mundo foge para as praias próximas, e a cidade fica como que às moscas. Todo o mundo que trabalhava na rádio comunitária iria sair, e a rádio seria fechada. Foi então que me ofereci: como uma homenagem ao Teles, eu ficaria na rádio durante alguns daqueles dias, e a manteria funcionando. E mudei-me para ela de mala, cuia e meus apetrechos de camping, o que incluía uma caixa com comida e água, o que foi providencial, pois não havia nadinha nadinha aberto onde se comprar comida lá no bairro da rádio. Os meninos que carregavam o piano da rádio deixaram para mim um colchão que eu podia botar no chão e dormir, lá dentro mesmo do estúdio. É claro que aquele pedacinho de cachorro preto e peludo mudou-se comigo para lá!
Como era quente, naqueles dias, lá dentro da rádio! Eu tinha que despertar um pouco antes das seis da manhã, para colocar a rádio no ar as seis, e a mantinha funcionando até as dez da noite. Passava grande parte do tempo fazendo seleções musicais e brincando com o meu filhote, já que pouco conseguia me concentrar para escrever ou ler, tamanho o calor infernal que me mantinha inundada em suor dia e noite, apesar de alguns ventiladores ligados ininterruptamente. E na hora de dormir arrumava uma cama para mim no colchão no chão, e fazia uma caminha com a fresca colcha de seda azul para o meu cachorrinho, assim bem pertinho do colchão, para que ele não se sentisse só.
Então, numa noite... apesar de ser tão peludo e do calor que fazia, Atahualpa deve ter sentido algum frio – afinal, ainda era um bebezinho – então, numa noite, eu senti pela primeira vez aquele cachorrinho que era como um bife esforçar-se para subir no meu colchão, que decerto lhe parecia muito alto, e mansamente, silenciosamente, esgueirar-se lençol afora, até vir a se abrigar bem juntinho a mim – acolhi-o no meu peito, abriguei-o com minha mãos, e ele dormiu ali, junto do meu coração, até que a manhã chegasse. Já não lembro quantas noites ficamos lá, mas ele repetiu aquele gesto de carinho e veio se colocar sob a minha proteção a cada noite, e era como se um elo novo estivesse se criando entre nós.
Lembrei-me muito de tal coisa nesta tarde de inverno, quando estamos mais ou menos acampados numa casinha de troncos que parece casinha de cinema, na pousadinha que passamos a freqüentar faz tempo, neste lugar chamado Nova Rússia.
Cansada como ando, depois de comer alguma coisa á guisa de almoço, fui dormir um soninho na cama, com a ajuda do meu cobertor vermelho e da minha coberta de penas. De repente, no meio do sono, senti que havia mais alguém na cama. Mesmo semi-inconsciente, dei-me conta que, apesar dos nove meses e dos nove quilos, Atahualpa continua sendo um filhote que sente frio, pois era ele que se movimentava devagarinho sobre o lençol e vinha se abrigar em silêncio sob a maciez da minha coberta de penas. Ele virou um cachorrão peludo, mas dentro dele continua existindo aquela necessidade de calor e de carinho que o fazia subir no meu colchão lá na altura do Ano Novo. Laços de carinho, assim, não se quebram com facilidade!
Então, me deu tanta saudade do Teles!


Blumenau, 01 de Agosto de 2008.

3 comentários:

  1. [URL=http://almutamayiz.com/%D8%B4%D8%B1%D9%83%D8%A9-%D9%85%D9%83%D8%A7%D9%81%D8%AD%D8%A9-%D8%AD%D8%B4%D8%B1%D8%A7%D8%AA-%D8%A8%D8%A7%D9%84%D8%AC%D8%A8%D9%8A%D9%84/]شركة مكافحة الفئران بالجبيل[/URL]

    ResponderExcluir

  2. [URL=http://almutamayiz.com/%D8%B4%D8%B1%D9%83%D8%A9-%D9%85%D9%83%D8%A7%D9%81%D8%AD%D8%A9-%D8%AD%D8%B4%D8%B1%D8%A7%D8%AA-%D8%A8%D8%A7%D9%84%D8%AC%D8%A8%D9%8A%D9%84/]شركة رش مبيدات بالجبيل[/URL]
    [URL=http://almutamayiz.com/%D8%B4%D8%B1%D9%83%D8%A9-%D9%85%D9%83%D8%A7%D9%81%D8%AD%D8%A9-%D8%AD%D8%B4%D8%B1%D8%A7%D8%AA-%D8%A8%D8%A7%D9%84%D8%AC%D8%A8%D9%8A%D9%84/]شركة رش حشرات بالجبيل[/URL]

    ResponderExcluir
  3. [URL=http://almutamayiz.com/%D8%B4%D8%B1%D9%83%D8%A9-%D9%85%D9%83%D8%A7%D9%81%D8%AD%D8%A9-%D8%AD%D8%B4%D8%B1%D8%A7%D8%AA-%D8%A8%D8%A7%D9%84%D8%AC%D8%A8%D9%8A%D9%84/]شركة مكافحة الفئران بالجبيل[/URL]

    ResponderExcluir