sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Meu Cachorro Atahualpa 5

(Para João Cândido Spézia de Souza, o Joãozinho da Lisi e do João Grandão)


Aos dois meses, quando chegou na minha casa, Atahualpa foi morar dentro de uma caixa de papelão, na área de serviço. Bem encostadinho à sua cama, eu deixava um rádio ligado bem baixinho, nas noites, para que ele não se sentisse sozinho. Era dezembro; portanto, verão, e sua primeira caminha foi uma colcha de seda azul e branca que existia na minha casa desde o Natal em que eu tinha três anos. É claro que na hora em que eu assistia aos jornais na televisão ele ficava no meu colo, todo embrulhadinho nos mais lindos panos africanos que eu tinha, e que também andava por aí no meu colo, inclusive no meu carro, enquanto eu dirigia, pois era um pedacinho de nada de cachorro, um bife, como já disse outro dia. Comprei uma coleirinha verde número zero, que lhe ficava grande, e demos os primeiros passeios juntos, e ao primeiro medo, ele corria a se esconder sob a barra dos meus vestidos, que costumam ser compridos.
Aos poucos, porém, ele foi se apossando do meu escritório, e tenho coleções de fotos dele debaixo da minha mesa ou sobre o tapete azul que há defronte dela. Ficava ali por todo o tempo em que eu trabalhava, e lá pela meia noite, quando eu ia dormir, levava-o para a área de serviço, acomodava-o direitinho na caminha azul e branca e lhe desejava boa noite – e acho que ele nem se mexia a noite toda, pois, nas manhãs, quando tornava a abrir a porta da área de serviço, ele ainda estava deitado do mesmo jeito, e então se espreguiçava todo, enquanto abanava o rabinho de nada!
Atahualpa era tão pequenino que, ao chuveiro, eu lhe dava banho segurando-o junto ao meu peito, e ele chorava o tempo todo, durante o banho, como se fosse um nenenzinho. Morria de frio depois dos banhos – eu o embrulhava com diversas voltas na maior toalha que tenho, depois o secava com uma segunda toalha, e o frio não passava, não importava o calor que fizesse – num instante ele se tornou dono, também, da minha linda colcha cearense amarela, que eu usava sobre o sofá da sala – para se aquecer, tinha que embrulha-lo na colcha amarela e ajeita-lo dentro de uma cesta tecida pelos índios Xokleng, legítimo artesanato pelo qual eu tinha o maior carinho, e colocar a cesta sobre um banquinho, bem encostadinha em mim, enquanto ficava trabalhando no computador. Era lindo, aquele cachorrinho peludo e preto dentro daquela colcha amarela!
Ele era tão friorento que comecei a pensar seriamente num enxoval de inverno que o abrigasse. Dei uma olhada nos armários, e encontrei um acolchoado daqueles que faz 30 anos que não é usado. Dobrei-o em quatro partes – parecia um tamanho bom para um cachorro que um veterinário me dissera que acabaria tendo uns 8 quilos. Então comprei flanelas xadrez, bem másculas, e pedi para a Rovena, a minha costureira, para fazer duas lindas capas de colchão para ele. Antes que o primeiro frio chegasse, lá estava Atahualpa com seu colchãozinho chique, do qual ele se apossou ao primeiro olhar. Naquela altura, ele deveria estar com uns cinco meses – agora, aos oito, ainda filhote (mas já com os oito quilos), ele já quase não cabe mais naquele colchão- e para não alongar demais esta crônica, conto como está, atualmente, a cama do Atahualpa, neste tempo de frio: além do colchãozinho inicial, tem um edredon do meu uso pessoal, dois travesseiros e uma manta de lã andina, tudo combinando na cor, e tive que comprar uma série de fronhas novas, pois, além dos travesseiros da cama, ele precisa de dois travesseiros no carro, para poder se sentir confortável. (E há que multiplicar isto por dois, pois há que trocar tudo a cada semana, para ele ficar limpinho.)
Na prática, na prática, atualmente tenho que lavar uma maquinada de roupa a mais, a cada semana, só para dar conta da roupa de cama do Atahualpa (sem contar as toalhas de banho).
Ter um cachorrinho é uma coisa fascinante, mas que dá trabalho, lá isso dá! Mas como eu poderia viver, hoje, sem ele?


Blumenau, 14 de Junho de 2008.

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